Litercultura lota Capela Santa Maria numa conversa de filosofia

O segundo capítulo do festival literário Litercultura aconteceu nesta segunda-feira, dia 8 de junho, na Capela Santa Maria. Para a organizadora do festival, Manoela Leão, a maturidade da relação entre o festival e o público fica evidente – os 270 ingressos deste segundo capítulo se esgotaram dois dias após a bilheteria ser aberta. A conversa Elogio do Frágil recebeu o pensador italiano Gianni Vattimo e a doutora em filosofia e escritora Marcia Tiburi com mediação do curador do Litercultura, o jornalista Manuel da Costa Pinto. Vattimo é reconhecido internacionalmente como criador do chamado “Pensamento Fraco” no final da década de 1970, a partir de uma necessidade de aproveitar a multiplicidade das ideias, sem buscar uma ‘razão absoluta’, pois considera que o pensamento não é total. Parte do raciocínio do italiano também se deve ao que o próprio Vattimo chamou de arte da interpretação, em uma sutil provocação dele: “quem garante que os fatos são dessa maneira?”. Em uma interpretação possível, mesmo ciente da presença de sistemas específicos de regras para se analisar um pensamento ou um fato, é como se ele buscasse algo além de uma resposta definitiva, em uma maneira de praticar sua filosofia. Prática que é fundamental também para Marcia Tiburi, pois assim ela chamou a filosofia, e em vez de tratá-la unicamente como um assunto acadêmico ela ‘joga’ com esta linguagem dentro do Brasil. Sua filosofia sempre foi política, no sentido de se envolver com o que não se integra no país - “isso é muito [a cara] da nossa época”, ela afirmou. Pode-se dizer que isso a levou a criar o #partidA. Escrito com a maiúsculo no final, é um partido feminista longe do molde tradicional de partido político, cujos nortes já estão indicados em sua grafia: a ênfase na ação da mulher, capaz de realizar ações políticas com afeto e elegância, que partem de uma ação dialogada e decidida em conjunto para realizar uma democracia efetiva. O #partidA ainda é informal, mas sua organização desafia os moldes vigentes de partidos, ainda ligados ao patriarcado, pela proposta inclusiva; uma filosofia prática de feminismo que pode, segundo Tiburi, ser abraçada não apenas pelas mulheres, mas também por homens, homossexuais, transexuais e demais gêneros. Segundo a organizadora Manoela Leão, uma das intenções desta edição era tirar o caráter hermético da filosofia, tornando-a acessível em um evento aberto ao público não especializado; o auditório lotado para presenciar a conversa entre Gianni Vattimo e Marcia Tiburi, que se revelou uma aula de prática das filosofias particulares de cada um, é uma prova deste sucesso.